19-10-2021
Work-life balance: como identificar 5 sinais positivos e negativos no teu dia-a-dia?
por Joana Lemos, Talent Engagement Specialist @ Xpand IT
Encontrar o “equilíbrio” entre trabalho e vida pessoal (o work-life balance) não é uma questão recente na nossa sociedade. É um facto que a tensão entre os dois foi condicionada pela pandemia, com a vantagem e/ou desvantagens do trabalho remoto e com a preocupação das pessoas na natureza do seu trabalho, no seu significado ou propósito, e como isso poderá afetar a sua qualidade de vida.
A realidade é que os escritórios de hoje, estão fisicamente nas nossas salas, quartos, cozinhas. É importante refletirmos como é que esta transição ocorreu e como é que o trabalho se encaixou nas nossas casas, mas sobretudo nas nossas vidas. Ao refletir sobre isto, é inevitável questionarmos quais os sinais para que a transição tenha sido bem sucedida ou não, e o que devemos fazer se algo estiver menos bem ajustado.
Este artigo tem como objetivo sensibilizar-te para a consciência destes sinais e dos seus desafios, numa realidade diária rodeada de tecnologia, onde podermos sentir que o nosso dia-a-dia está frequentemente em piloto automático, que por vezes não nos deixa ser produtivos como queremos ser e onde estamos recorrentemente com a sensação que colocamos a nossa vida pessoal em stand-by.
Antes de explorarmos estes sinais, temos de explorar dois conceitos diferentes e refletirmos sobre alguns aspetos da nossa vida: work-life balance e work-life integration.
O que podes considerar equilíbrio pode surpreender-te
Alguns críticos dizem que o termo work-life balance cria uma separação artificial entre o trabalho versus vida pessoal, como se o trabalho não fizesse parte integrante da vida de cada um de nós. Uns dizem que simplesmente o equilíbrio entre os dois não existe, e outros que nós ditamos o que é e como é esta forma de equilíbrio.
Criticas à parte, tem surgido uma outra expressão que se tem tornado cada vez mais popular, como uma evolução deste famoso termo: work-life integration.
Isto é considerado como uma nova abordagem que cria maior sinergia entre as áreas que nós definimos de “vida”, desde: o trabalho, casa, família, comunidade, saúde mental/física e bem-estar. Esta expressão permite mostrar ao empregador que a perfeição não existe, nem no trabalho nem em casa, promovendo vulnerabilidade, honestidade e que o mais importante e necessário é a transparência que o trabalho e vida pessoal se confluem num só.
Podemos acreditar que se não precisássemos trabalhar ou se pudéssemos trabalhar muito menos horas, seríamos mais felizes, mas isso não explica como é que alguns reformados decidem ter empregos em part-time para se manterem ocupados e alguns vencedores de lotarias e euromilhões simplesmente continuam a trabalhar.
Alcançar o equilíbrio perfeito entre trabalho e vida pessoal (acreditando que o equilíbrio existe ou não), não é necessariamente sobre quando, onde e como trabalhamos – é mais sobre uma questão de: “porque trabalhamos?”. E isso significa compreender uma série de outros aspetos que podem não ser óbvios para nós, mas que podem ter surgido desta súbita invasão do escritório para a nossa casa.
Estudos demonstram que o trabalho está de forma consistente e positivamente relacionado com o nosso bem-estar e constitui uma grande parte da nossa identidade.
Se fizeres a questão a ti próprio “Quem eu sou?” é provável que começes a descrever ou associar ao sou o que tu fazes no teu trabalho. De certa forma o nosso emprego pode contribuir para o nosso bem-estar, seja por nos proporcionar competência, sentido de missão, energia, prazer ou simplesmente por nos atraí a sensação de esforço. Outro estudo revela que estarmos ocupados pode contribuir para a nossa felicidade, mesmo quando nos apetece ficarmos parados sem fazer nada. Daí alguns de nós preferirmos fazer “algo” durante o nosso tempo de lazer. Dá que pensar, não é?
Mas como sabemos o que é equilíbrio para nós seja pessoal ou profissional? Como conseguimos perceber quais são os sinais positivos e negativos do work-life balance? E qual é o impacto que esses sinais podem ter na nossa vida?
Partilho contigo 5 sinais negativos no teu work-life balance aos quais deves estar atento:
- Despreocupação – Se começas a sentir que estás a adormecer demasiado tarde ou tens insónias constantes isso poderá sem um dos primeiros sinais do teu corpo a avisar-te de que algo na tua vida precisa de mudar. Já para não falar no facto de passares o dia inteiro sentado em frente ao computador e sentes que a única altura do dia em que te moves, é indo para as tuas duas divisões da casa preferidas (tu sabes quais são). Para além disso, sentes que dás por ti a olhar com maior frequência para a aplicação da Uber Eats do que para o interior do teu frigorífico.
É necessário que cuides de ti fisicamente, psicologicamente e socialmente, manteres-te ativo, criares uma rotina de caminhar nem que seja 20m por dia, não saltares refeições e poderes ter uma boa noite de sono.
- A tua saúde mental, “onde” está? – Começaste a sentir-se ansioso? Sentes que estás mais impulsivo e que te irritas facilmente? Poderás até sentir cansaço, desesperança, diferenças súbitas de humor, pensamentos destrutivos e negativos. Já sabemos o efeito que o stress têm em nós e no nosso sistema imunitário. Precisas de estar a atento a enxaquecas constantes, perda de memória, perda de paciência, falta de motivação e de energia.
- Modo shut down – Sentes que nada do que fazes tem sentido. Sentes falta de te sentires connectado com os teus colegas, família, amigos e clientes. Sentes que estás apenas em piloto automático. Se fazeres algo por ti todos os dias, é demasiado exigente no momento, tenta fazer algo que gostes uma vez por semana, seja o que for. Se por exemplo estás com dificuldade em pôr a conversa em dia com alguém que gostes realmente de falar, talvez seja a altura certa para usares o telémovel para o fazeres. Quando estiveres com essa pessoa foca-te apenas em estares com ela e deixa o telémovel no bolso ou na mochila. O facto de o pousares em cima da mesa enquanto estás a falar com alguém significa que embora estejas a passar tempo com essa pessoa, existe algo que pode interromper esse momento a dois a qualquer momento e que a pessoa passará para segundo plano. Por exemplo, se recebes uma noticação de um email (mesmo que não seja importante) naquele momento a conversa que estavas a ter acaba por ser interrompida. Se for algo urgente irás receber uma chamada, que vais atender e perceber do que se trata e caso não sejam urgente pedes para ligar mais tarde. Usufrui das experiências e do próprio momento. Os apaixonados por fotografia esperam horas para tirar uma boa foto e depois passam por vezes até mais horas a olhar para ela e a ver cada pormenor, não decidem logo publicá-la no Instagram!
- Limites mal delimitados – Até que ponto é que integras ou separas o teu trabalho da tua vida pessoal? A investigadora Ellen Kossek, criou um survey que ajuda a perceber os teus limites e mediante o resultado, dá algumas sugestões e estratégias de melhoria, desde físicas, mentais ou sociais.
Recordas-te da questão anterior de “quem eu sou”? Muitas das vezes a nossa tendência é dizeres que és um engenheiro, um responsável… mas que outras identidades tu tens? És um guitarrista, desportista, pai, amigo?
É importante reforçares quem tu és, além da tua identidade no trabalho e de perceberes quais são as várias identidades que tens e preservá-las. Além disso, que outras identidades gostarias de ter? Explora os teus gostos, experiências e potenciais vontades futuras.
- Copy & Paste: uma vez por outra ≠ rotina – A sensação de todos os teus dias serem iguais e estás “rodeado” (eletronicamente falando) das mesmas pessoas e chegas ao final do dia já não tens paciência para muito mais do que ficares deitado no sofá e mandares vir comida ao domicilio. Um dia por outro é bom fazer isto mas tens de ter atenção para nos o tornares numa rotina. Grande parte das vezes nem está relacionado com as tarefas ou projetos que tens em mãos, simplesmente precisas de outros estímulos e experiências. Se tens férias por marcar, pode ser uma boa solução pensares nisso, usa o tempo para planeares o teu próprio tempo, experiências e descanso. Os dias de férias são para serem usufruídos mesmo que não tenhas local para onde ir viajar. The “Doing Disease” é real e temos de arranjar estratégias para desacelerar. Já Gandhi dizia “Existem mais coisas na vida do que aumentar a sua velocidade”, até porque sabemos exatamente o quanto a nossa vida é limitada pelo tempo.
Work-life balance: cinco sinais positivos
Agora que já sabes o que deves estar atento, partilho contigo 5 sinais positivos no teu dia-a-dia que devem ser reforçados quando já são uma realidade, ou que deves começar a aplicar:
- Desconectar – Será que consegues chegar ao final do teu dia de trabalho, desligar o teu pc e abstraíres-te das notificações que podem surgir sobre trabalho? Consegues concretizar algum plano que tenhas feito pessoal para o dia, seja treinar, ver Netflix, estares com quem gostas, fazeres algumas tarefas domésticas, ou simplesmente não fazeres absolutamente nada? Só teres a capacidade de estar no sofá a ouvir música sem pensares em mais nada durante aqueles instantes pode trazer-te tranquilidade e fazer-te abrandar o ritmo do dia. Se conseguires fazer alguma coisa para além de trabalhar durante todo o teu dia, sabes que estás a fazer algo por ti.
Aqui vou lançar-te uma questão para refletires: Antes quando ias para o office todos os dias, tinhas mais ou menos facilidade em abstraíres-te depois do trabalho no trajeto até a casa ou tens mais facilidade agora que trabalhas através de casa? Fica a questão no ar mas pensa sobretudo na estratégia que usavas/usas para te abstrair.
- Priorizar – Teres a capacidade de decidir que só irás avançar com a segunda tarefa depois de concluíres a primeira. Deves estar a pensar neste momento “falar é fácil”, mas se dividires o teu dia em slots dedicados às tarefas que tens para fazer, vais perceber que vais conseguir concluir ambas se dedicares determinado tempo a cada uma delas. Multitasking em algumas situações pode não ajudar. Tens várias ferramentas que te podem ajudar a organizar melhor o teu tempo, desde agendas, bullet journal, outlook, ou até ferramentas como o Jira, Miro, Trello, Todoist, Monday.
Caso ainda não tenhas terminado as tuas tarefas e surge alguém que te delega mais uma tarefa ainda para fazeres, experimenta fazeres estas duas questões: “é urgente ou importante?” ou “tem de ser já?” Estas duas frases vão fazer a diferença entre uma tarefa que é prioritária e que tem de ser feita no imediato, ou é importante e pode esperar para ser feita nos próximos dias.
- Focar – A palavra foco tem de ser aplicada tanto no tempo de trabalho como no teu tempo de lazer. Assim que assumes que vais fazer algo por ti, torna isso como algo não negociável no teu dia, seja a que horas for. Se o objetivo é treinares durante o dia, estares vestido, teres a refeição preparada do dia anterior, o equipamento no local certo, pode fazer a diferença. Existe algo que também tem de acompanhar o foco: determinação. Se sentes que estás a perder a vontade de o fazer ao longo do dia, o segredo poderá ser definires que é a primeira coisa que fazes na tua manhã.
- Aceitar que imprevistos acontecem – Vão sempre existir situações que não controlamos. Por exemplo, se um familiar está doente, poderás não conseguir estar presente numa determinada reunião, da mesma forma como se tens um deadline importante a cumprir, poderás não conseguir ir a um jantar com um amigo. O que é importante é não permitires que estas inevitabilidades se tornem a norma. Poderá ser algo pontual ou que dure uma semana, mas mais tarde ou mais cedo vais voltar a conseguir ajustar as tuas expectativas.
- Pedir ajuda – Reconhecer que precisas de suporte já é um grande passo para o sucesso, depois só precisarás das ferramentas certas para te ajudar a recuperar. Tu é que decides quem será o teu suporte: um familiar, amigo, colega ou até um psicólogo, como dos nossos parceiros na Team 24.
Acreditando que o equílibrio existe ou não, ou qual o termo certo a aplicar “balance”, “integration” ou outro, temos uma certeza: somos nós que devemos definir as metas e estratégias próprias para encontrar o que considerarmos ser razoável de tempo versus esforço, a dedicar a cada uma das áreas da nossa vida, seja a vida pessoal ou trabalho. Independentemente de tudo, cada uma exige dedicação, planeamento, foco e priotização, algo que é essencial para ajudar a moldar o nosso dia-a-dia.
Na prática, o que queremos ter é sensação que conseguimos conciliar tudo sem que isso implique uma escolha. Se conseguiste criar uma rotina que te orgulhes e te sentes feliz, sabes que estás no caminho certo. Se ainda estás à procura, espero que algumas destas dicas te ajudem a encontrar a palavra, solução ou alternativa que procuras.
Já sabes que poderá não estar associado a palavras como equílibrio, não fazer nada, querer para fazer tudo, onde como e quando. É preciso é existir vontade própria para que esta concilização aconteça e também suporte da empresa onde estás, para que exista foco em promover a realização pessoal em nós, sem expectativas que tudo tem de ser perfeito, já que é através da tua realização pessoal e profissional, que a empresa cresce também.
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